terça-feira, 3 de agosto de 2010

**Os espelhos da alma**


Desde remota antiguidade, os olhos vêm servindo de tema para poemas, ensaios, provérbios, lendas etc. Os de Cleópatra (que os maquiava muito à maneira das modernas elegantes) eram tão celebres quanto o seu nariz e devem ter desempenhado também papel importante na mudança dos destinos da humanidade.

A moda atual – insensata sob tantos aspectos – pelo menos com relação aos olhos, demonstra haver compreendido a importância deles para fazer sobressair a beleza de um rosto. Com efeito, nunca houve tanto requinte na maquiagem dos olhos como agora. O seu formato é sublinhado e alongado por traços de lápis; o rímel, que até há bem pouco tempo se limitava ao preto e ao marrom, hoje, pode ser encontrado nos mais variados matizes de verde, azul, violeta ou cinza; e um mostruário de “sombra” para as pálpebras faz lembrar uma paleta de pintor abstracionista.

Mas não é só. Recentemente, em Paris, foram lançadas “sombras” de ouro e de prata para a noite. E Josephine Backer, a famosa cançonetista de dançarina café au lait, inaugurou a moda de colar sobre cada pálpebra uma pequenina pedra preciosa. Desta forma, qualquer uma que queira dar-se a esse trabalho (quase de ourives), poderá exibir um olhar cintilante...

Quanto aos cílios postiços, outrora só usados por atrizes no palco e na tela, o seu uso está espalhando-se cada vez mais para as horas do dia.

Para os olhos serem belos, não basta, porém que sejam grandes, de um colorido especial ou maquiados com requinte. É preciso que neles haja algo à mais. Pois, sendo “os espelhos da alma”, devem refletir doçura, compreensão, inteligência.

Em resumo, o mais importante dos olhos é – o olhar.



{Texto extraído do livro “Clarice Lispector só para mulheres”, p.09, Editora Rocco, São Paulo, 2007}

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