sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pensamentos ruminantes............

Hello peoples!




A revista Galileu apresentou uma repostagem de capa em maio de 2010, um tanto quanto interrogativa para mim. Vejamos: "o lado bom da depressão". Gente! Pela primeiríssima vez na vida, vi uma menção como essa, que é no mínimo curiosa, diga-se de passagem. Com esse rótulo, não pensei duas vezes e tive a enorme curiosidade de folhear as páginas desta revista quando ironicamente aguardava na sala de espera do consultório de minha terapêuta (!!!) Sim...eu também faço terapia!!!! E ADOROOOOO.............


A reportagem diz que para o amadurecimento pessoal, sim, a depressão tem um saldo positivo. Mas através desse título denota a todos que o processo é igualmente fortalecedor e enriquecedor para todos, o que não é verdade. Existem fatores que levam à depressão "endógena" a qual é de origem unicamente orgânica, ou seja, envolvem fatores biológicos do indivíduo. Já a depressão "exógena", como o próprio nome sugere, trata-se da depressão ocasionada por fatores "neuroquímicos" no qual o indíviduo que “entra em parafuso” depois de longos períodos de stress, depois de uma sobrecarga constante e intensa e depende unicamente de fatores externos, como por exemplo perdas significativas. Há também aquela que é ao mesmo tempo endógena e exógena, ou seja, compõem-se dos dois fatores, combinadíssimos. Um verdadeiro complô contra a felicidade. Resumo da ópera: como a reportagem é superficial e não abrange esses mecanismos de contrapartida, pode-se dessa forma concluir que, a depressão que propicia a evolução do ser através do amadurecimento e crescimento é do tipo exógena e me corrijam se eu estiver errada. Segue trechos da reportagem, espero com isso poder auxiliar a quem possa interessar.





Beijokas da Syy Olivier








"O lado bom da depressão" {isso realmente existe?}




"Novas pesquisas defendem que ela faz parte do processo evolutivo: um mecanismo que nos obriga a resolver os dilemas mais profundos. {E eu então questiono: mas será que conseguimos mesmo "resolver" nossos conflitos ou apenas aprendemos a "conviver" com nossos monstrinhos de estimação?}.





Ela não pode ser diagnosticada por exames de sangue, detectada em chapas de raios-x ou investigada em testes de resistência física. Mas, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, será em duas décadas, a doença mais comum do mundo. Saiba por que pesquisas recentes apontam que essa pode ser uma boa notícia para todos nós.





Ruminação positiva




Ao estudar as raízes evolucionistas da depressão, Andrews e Thomson focaram-se num tipo de pensamento que costuma ser comum em portadores da doença, chamado de ruminação. O nome deriva do hábito que as vacas têm de continuar mastigando por horas alimentos que já tinham engolido e voltaram do estômago. “O pensamento ruminante faz com que a pessoa pense continuamente em seus problemas”, diz a psicóloga Susan Nolen-Hoeksema, da Universidade de Yale. Até recentemente, havia um consenso científico de que a ruminação não passava de um tipo inútil e improdutivo de pessimismo. A própria professora defende, em parte, essa ideia: “Em alguns casos a ruminação analítica leva o doente a remoer seus problemas de forma tão passiva e repetitiva que acaba ficando ainda mais deprimido”. Uma ala da psicologia evolucionista passou recentemente a ver a questão sob um prisma bem diferente. Andrews e Thomson acreditam que a ruminação envolve afiados processos analíticos que, se bem orientados, de preferência com a ajuda de especialistas, podem ser produtivos, ainda que dolorosos. Por meio da ruminação, pessoas deprimidas tendem a quebrar um problema complexo em questões menores, com as quais é mais fácil de lidar. “Isso leva a melhores chances de resolvê-los”, diz Andrews. Estudos apontam ainda que a depressão aumenta a atividade cerebral de uma área do córtex pré-frontal importante para manter a atenção. Isso contribuiria para a mente permanecer mais focada em um problema, minimizando distrações. No processo, o doente pode ter insights sobre sua vida que não seriam possíveis se estivesse são.


O escritor Osíris Reis, 30, enfrentou duas fortíssimas crises de depressão. A primeira começou em 2000, durante o curso de medicina. Apesar de perceber que não tinha nada a ver com a área, não conseguia largar os estudos. Ficou na faculdade um ano e meio, tempo durante o qual começou a perder a capacidade de sentir prazer em tudo. Na tentativa de recuperar a alegria, foi aumentando o ritmo da vida: fazia compras enlouquecidamente, ia a festas quase todas as noites. “Demorei a me tocar que isso era depressão. Só me dei conta quando larguei a medicina, fiz inscrição para o curso de mecatrônica em Brasília e, três meses antes do vestibular, não tinha vontade de levantar da cama — só encontrava ânimo para ir até a cozinha e pegar uma faca para me matar”, afirma. “Foi aí que percebi que a coisa era séria e decidi procurar ajuda médica.” Consultou-se com psiquiatras, mudou-se por um tempo para a casa dos avós, começou a escrever livros, entrou para um curso de audiovisual. Em 2004, uma nova crise apareceu, mas, desta vez, Osíris já sabia como se cuidar: aliou tratamentos psiquiátrico e psicológico e tomou medicamentos até melhorar. “Na hora em que você está mal, esse papo de que a depressão tem lado bom não faz sentido. Só pude ver pontos positivos quando comecei a me tratar”, diz. “Hoje sei que, se não fosse pela doença, eu teria mantido escolhas que fariam da minha vida uma porcaria.”



No Brasil, os antidepressivos já são a quarta classe de remédios mais comercializada — atrás de anti-inflamatórios, analgésicos e contraceptivos. Em cinco anos, segundo levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a venda desse tipo de medicamento cresceu 48%. Pulou de 17 milhões de unidades vendidas em 2003 para 25,9 milhões em 2008. “Hoje antidepressivos são prescritos por médicos de todas as especialidades, mesmo quando não têm certeza do diagnóstico”, diz Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “No entanto, há casos de depressão mais graves em que os antidepressivos são imprescindíveis. Já em situações leves, o acompanhamento psicológico é, muitas vezes, suficiente para que a pessoa se restabeleça”, diz. É importante salientar que distinguir um quadro grave de um leve ou moderado não é tarefa fácil. Cada caso precisa ser avaliado individualmente por especialistas na área. O fotógrafo Jorge Poyart, 30, teve o primeiro contato com a doença quando tinha 15 anos. O gatilho foi a postura instável do pai. Primeiro, vieram ataques de raiva, seguidos de profunda tristeza que o levou a se afastar dos amigos. Ao longo da vida, teve algumas crises, que, com a ajuda de intenso tratamento, resultaram em importantes descobertas sobre si mesmo. Passou a ter consciência de que havia questões que precisava resolver consigo mesmo se quisesse ficar bem. Graças à doença, aprendeu a desenvolver sua autoconfiança. “Saí fortalecido e mais resistente a problemas. Aprendi a me respeitar, a me perdoar e a me dar valor”, diz. “Entendi que também mereço ser feliz, sem culpa, como todo mundo.” Defender que depressão tem seu lado bom não significa dizer que seus portadores não precisam de tratamento. Muito menos que devam sofrer indefinidamente à espera de supostos benefícios da doença. Afinal, aí reside outro grande paradoxo da evolução: mesmo quando temos consciência de que a dor pode ser útil, a urgência em escapar dela é um de nossos mais emblemáticos instintos. Remédios, psicanálise, psicologia, cada um deve procurar o tratamento que julgar melhor para aliviar o sofrimento. Mas as recentes teorias sobre depressão trazem uma inovação preciosa ao nos mostrar que a tristeza e o pessimismo podem não ser de todo ruim, ajudando-nos a compreender nossas reações humanas de uma maneira mais natural. E a entender melhor aquele velho ditado que diz, sabiamente, que há males que vêm para bem.



Patologização da tristeza




A depressão, ou melancolia, como era citada no passado, atinge muita gente faz milênios — há menções a ela que remontam aos tempos de Aristóteles, no século 4 a.C. Mas só recentemente passou-se a aventar que a doença tenha aspectos positivos. Novos estudos tentam jogar luz ao tema, como o recém-lançado livro Manufacturing Depression: The Secret History of a Modern Disease (Fabricando a Depressão: a História Secreta de uma Doença Moderna, sem tradução no Brasil). Nele, o psicoterapeuta Gary Greenberg, que também sofre de depressão, faz um relato franco do que classifica de patologização da melancolia. A partir do século 20, tristeza profunda passou a ser tachada de doença grave. Virou tema de pesquisas científicas, ganhou vocábulos cada vez mais extensos em livros de medicina e psicologia e, a partir dos anos de 1950, transformou-se em mal a ser combatido por remédios. Co-autor de The Loss of Sadness: How Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder (A Perda da Tristeza: Como a Psiquiatria Transformou Tristeza Normal em Disfunção Depressiva, inédito no País), outro interessante livro sobre o assunto, Allan Horwitz defende que isso acontece porque a psiquiatria contemporânea tende a deslocar os sintomas de seu contexto, classificando de disfunções mentais reações normais que temos diante de situações de estresse. Isso, segundo ele, tem sérias implicações não só para a medicina, mas para a sociedade em geral. “Diante dessa indústria da felicidade, que alardeia ser possível sentir-se bem o tempo todo, a gente se torna incapaz de ver a tristeza como parte natural da vida”, diz. “Isso leva pessoas que estão apenas tristes ou que têm quadros mais leves de depressão a buscar saídas rápidas para sua dor por meio de antidepressivos.” Horwitz salienta, no entanto, que é preciso separar reações depressivas, que são respostas normais a situações difíceis, dos transtornos graves de depressão. “Quadros complicados, como depressão bipolar, precisam, claro, ser tratados com cuidado especial, muitas vezes de forma multidisciplinar, combinando medicamentos e terapias.” A própria pesquisa de Andrews e Thomson focou-se em tipos leves e moderados da doença — gente que, na opinião dos dois pesquisadores, acaba tomando antidepressivos sem necessidade, perdendo a chance de refletir sobre sua existência e tomar decisões que poderiam ser de grande valia. Culpa, segundo eles, da banalização no uso desses medicamentos."




Bibliografia: Revista Galileu
número 226/ maio 2010
{foto da net}

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